Eis mais um dos mais belos registros musicais já concebidos. Apenas uma música genial no álbum inteiro, mas de uma autenticidade dificilmente igualável. A superioridade dessa música, em relação as demais do álbum, é facilmente notada logo na primeira audição. Ao que parece, a banda fez mesmo um pacto com algum tipo de entidade facilitadora de sonhos aparentemente inalcançáveis, em troca de almas com potencial de genialidade; sim, pois tal composição se eleva tão acima das demais, que leva a uma tendência a acreditar nisso (rs).
Esse som beira a perfeição, pois ele passa levemente acima dos limites dela. São tantas as sonoridades, que a música acaba por ultrapassar as barreiras do rock e do fusion, se tornando, assim, um fantástico registro de música progressiva da mais alta qualidade e complexidade.
É uma tarefa extremamente árdua e infrutífera tentar traduzir as sensações em palavras. São sucessivas e progressivas as emoções sentidas. É uma crescente interminável de de notas e acordes que se representam como bombas prestes a explodir, gerando muita expectativa banhada à adrenalina.
São diversas sonoridades, espalhadas por tempos e dimensões distintas. Cada tema tem sua importância fundamental, mas cada um que se apresenta, parece ganhar importância primordial, não devido à superioridade, mas, talvez, devido à jovialidade que cada um representa nas intermediações temporais desse espetáculo artístico.
O baixo, monumental e incansável, consegue duelar com cada instrumento da vez, estando sempre no patamar superior da graduação instrumental. Atrevo-me a dizer isso, mesmo sabendo da monstruosidade viajante e incontestável das guitarras inebriantes, e da força arrebatadora da bateria; apesar de estar ciente da beleza inebriante indutiva dos sopros, e da atrevida e invasiva aparição contagiante do órgão.
Caso alguém discorde de minhas palavras, ao ouvir esse som, lembre-se que nunca é tarde pra tentar nova audição, com mais atenção, e que pode estar faltando algum tipo de estimulante entorpecente para iluminar as ideias e a existência.
MÚSICAS:
01. Suite For Two Guitars - 1:45
02. Military Disgust - 4:59
03. Ala Ala - 2:37
04. Fort Huachuca Blues - 4:42
05. Everything's Alright - 2:38
06. Dawn Of The Seventh Sun - 6:53
07. The Fast Song - 3:27
08. When It Touches You - 3:37
09. Soulful Bowlful - 4:52 Bonus:
10. Free Fall - 6:12
MÚSICOS:
Howard M. Leese - Acoustic & electric Guitars, backing vocals, producer
Gary Witkosky - Lead & backing vocals, Tenor sax, Flute
Aqui temos mais uma daquelas raridades perdidas da década de 1960. Mais um daqueles casos em que a história sempre ficará devendo aos amantes da boa música. Mais um grande equívoco desleal da história musical, pois foi mais uma carreira interrompida precocemente devido ao excesso de confiança - pra não dizer presunção - dos produtores musicais das gravadoras que, por tantas vezes, subestimaram músicos magníficos. Entretanto, felizmente, ao menos dois registros transpuseram as barreiras da injustiça e chegaram até nossos dias, graças a algum desses selos visionários que relançaram o álbum em 2001, fazendo justiça finalmente. Conta a lenda, que a banda abriu shows do Zeppelin em 1969. Tal fato, além do lançamento dessa obra e outra ao vivo (Live Bust-1971), corroboram a tese de que talvez seja uma das maiores injustiças da história do blues.
Na faixa Going Down Slow, além de todas as qualidades sonoras que descrevo acima, temos - como em todas as faixas, aliás - um solo de guitarra extraordinário, que segue numa progressão alucinógena, que parece ter vida própria e dá a impressão que será eterno, pois se prolonga por dois longos e satisfatórios minutos.
A faixa Govinda é a mais experimental do álbum. Tem uma pegada de jazz que trafega por atmosferas um tanto orientais, que resulta num som de rara inspiração viajante.
As duas faixas menores do álbum também são as mais aceleradas: Free Will Fantasy e Whole Lot of Lovin; uma não passa dos cinco e a outra, dos quatro minutos.. Blues rock de qualidade que impressionam, acima de tudo, pela vitalidade dos arranjos, além da qualidade das composições.
Dead and Street é mais uma pérola do álbum; um verdadeiro ensaio instrumental digno de grandes nomes do jazz e do blues. Rock, blues e jazz mesclados com maestria por músicos extremamente maduros. Um magnífico passeio prolongado por oito minutos.
Got a Mind é a que mais chamou minha atenção devido a diversos fatores, além do simples fato de ter me tocado mesmo; sendo a que mais tive afinidade logo de cara. É um bluesaço arrastadão, com direito a um sax em cada canal e uma flauta magnífica. Tem raríssima inspiração tanto vocal quanto instrumental. Mais uma vez os trabalhos de piano baixo e bateria dão mais um show à parte, com notável harmonia de tirar o fôlego. Pra terminar, o solo de guitarra, arrastado e melancólico, é simplesmente monumental.
O álbum conta ainda com três faixas bônus. Duas versões demo, uma de Whole Lot of Lovin e oura da belíssima balada Cold Wind Blues. A outra faixa é a inédita Wind is Singing, que é uma faixa lenta que tem os arranjos bastante diferentes do trabalho da banda, guardando vaga semelhança mais com o alguma coisa do Traffic, talvez.
Momentos raros do blues estão registrados aqui. Na verdade, eu poderia dizer, sem medo, que é um dos mellhores registros de blues que já ouvi. Por longo período eu pesquisei blues; e já encontrei muita coisa boa, muita coisa rara; entretanto, encontrei neste álbum não somente excelentes arranjos, que incluem sax e flauta, mas, uma obra prima com arranjos fantásticos tanto para os intrumentos de sopro quanto para os tradicionais do blues. Os arranjos de bateria, baixo e piano são milimetricamente harmonizados como se tratasse de uma sofisticada obra de música progressiva da mais alta complexidade. Os responsáveis pelos arranjos e mixagem deste álbum são verdadeiros mestres da arte musical. Tudo parece estar conectado, de forma que nada fica jogado, nada fica pra trás, nada passa em branco; cada detalhe, cada acorde de cada instrumento parece ter um propósito maior, um objetivo comum que vai culminar numa estraordinária viagem musical.
MÚSICOS:
Bill Colwell - Guitar
Chuck Purro - Drums
Jack Shroer - Alto, tenor, soprano Saxophone
Moose Sorrento - Piano, Vocals
Collin Tilton - Tenor Saxophone, flute
Michael Winfield - Bass
MÚSICAS:
1. Free Will Fantasy-4:22
2. Got A Mind-6:54
3. Dead End Street-8:00
4. Whole Lot of Lovin'-3:36 5. Cold Wind Blues-4:49
6. Going Down Slow-4:44
7. Govinda-7:04
Bonus Track
8. Wind Is Singing -4:10 9. Cold Wind Blues (Version 2)-4:00
Depois do longo período de abandono do Hofmannstoll, apresento esta postagem e a dedico especialmente a Diego, grande amigo e fiel admirador do Bachdenkel.
Um
álbum marcante por sua incríveis conexões futuristas. A
banda estava bastante à frente de seu tempo, como estiveram outras
poucas daquele período. A
união de forças do trio baixo, guitarra e bateria se apresenta como
fator essencial para a concepção de desta obra extraordinária. É
impressionante a capacidade desses músicos de conceber com tanta
precisão o arcabouço necessário para dar vida e alma a este álbum
autêntico e excelente, carregado de emoções plenas e marcantes. Um
álbum que marca muito mesmo, tanto pela energia pulsante do
instrumental quanto pela veia lírica que permeia a essência
das faixas.
Os integrantes se permitiram captar sentimentalismos, sintetizando-os nas entrelinhas
de suas canções, como que aprisionados numa linhagem de sons quase
obscuros que, entretanto, se apresentam como exemplares da beleza
ímpar que a música pode proporcionar.
Os
caras conseguem transitar pela atmosfera progressiva com tanta
naturalidade, que tal fato lhes rendeu a classificação dentro deste
gênero. Não caberia aqui uma discussão em torno do assunto,
entretanto fica o registro de um questionamento, principalmente
quanto a própria estrutura das músicas (talvez não tenha sinais
tão claros de que os caras tinham a pretensão do estilo progressivo
em mente). Sem dúvida há um forte apelo psicodélico progressivo do
período sessenta/setentista.
A
primeira faixa é um culto à tristeza mórbida (Radiohead
e Nick Cave provavelmente
devem ter se nutrido dessa fonte); uma espécie de personificação
da melancolia, beirando o desespero e a aniquilação total de todas
as esperanças. Mas nem tudo parece estar perdido; o final guarda uma
agradabilíssima surpresa.
O
tema extremamente agressivo e carregado de melancolia da faixa An
Appointment With the Master demonstra
o potencial criativo e inspirado dessa banda genial. A faixa discorre
através de um clima tenso, impecavelmente harmonioso, como que num
galope de uma marcha contínua, incansável e insistentemente
magnífica.
Todo
o álbum tem faixas maravilhosas e muito interessantes. A versão que
apresento conta ainda com seis faixas bônus que valem muito à pena.
A
banda ainda lançou Stalingrad
(1975-1977).
Um bom álbum que, apesar de ter tudo diminuído, em relação a
este, manteve as qualidades essenciais da banda.
Line-up
/ Musicians:
-
Colin Swinburne / guitar, organ, piano, vocals -
Peter Kimberley / bass, piano (2), vocals -
Brian Smith / drums -
Karel Beer / organ (7)
Track
List:
1.
Translation 2.
Equals 3.
An Appointment With The Master 4.
The Settlement Song 5.
Long Time Living 6.
Stranger still 7.
Come All Ye Faceless
Bonus
tracks:
08-The
Slightest Distance (from EP Lemmings, 1978) 09-Donna
(from EP Lemmings, 1978) 10-A
Thousand Pages Before (from EP Lemmings, 1978)
11.
Through The Eyes Of A Child (unreleased single, 1969)
12-An
(other) Appointment With The Master (1973 version)
No tempo em que a busca por solidez sonora era certa na aquisição de um novo vinil, em que o canto era encanto e vice-versa. No tempo em que a nova aquisição de um álbum era de olhos fechados: um novo lançamento do Zeppelin ou King Crimson, de Chico Buarque ou Elis Regina, era sempre motivo de euforia e de certeza, da mais absoluta, de que se teria mais um álbum que ficaria marcado para a eternidade. No tempo em que cada vibração de cordas vocais ou de cada execução de instrumento musical, tinha-se a vibração ou um toque da alma do artista; assim eram as décadas de 1960 e 1970; e, em 1972, Saint Preux - um jovem compositor de música erudita - concebeu uma das mais belas pérolas da música instrumental progressiva.
Na atualidade, ou melhor, a partir da década de 1980, eclodiu a "pasteurização" da arte musical. Atualmente, uma criança de sete ou oito anos, ou menos, deseja ser presenteada com o mesmo álbum que os pais ouvem. Tem alguma coisa de muito errada aí - uma criança dessa idade deveria vomitar frente ao gosto musical de seus pais, salvo raríssimas exceções. O gosto musical dos últimos tempos faz parecer que estamos vivendo um pesadelo - todo esse lixo sonoro era inimaginável na década de 1970. O que havia de pior naquelas décadas, tinha um mínimo de compromisso com a arte musical. O que assistimos no cenário musical de hoje, é como se imaginássemos algo inferior ao esboço da arte; um estilo de pintura em que todas as telas fossem desprovidas de formas; todas as poesias isentas de palavras... Hoje, precisamos forçar nossos sentidos a um nível de exaustão suprema, para que possamos filtrar algo com proximidade ao belo.
Eu me sinto conformado, com certa ternura, quando uma criança critica meu gosto musical; da mesma forma, me choco quando me deparo com um adulto que ouve no som do carro, no último volume, o que rotularam de "sertanejo universitário".
Tenho um sobrinho que tem certa queda para a música de qualidade - vez ou outra coloco algumas peças progressivas pra ele; sempre algo mais suave, devido a sua idade (quatorze anos), para que ele possa degustar com facilidade. Certa vez ele indagou sobre minha admiração por Chico Buarque. Ele não conseguia entender o porquê. É justamente neste ponto que reside a questão: creio que uma criança da idade dele, não tenha base para entender a complexidade da música de Chico - salvo raras exceções, apesar do precoce e refinado gosto musical dele.
Também me espanta quando ouço dizer que Bochecha é o Tim Maia dos nossos tempos - palavras de Caetano. Todas essas questões levam a uma velha confusão entre o que é arte e o que é expressão de arte. Nas sábias palavras do grande poeta Ferreira Gullar:"Toda arte é expressão, mas nem toda expressão é arte"; "Se alguém começa a bater numa lata, emite sons; não produz arte"; "Arte, portanto, pressupõe 'saber fazer'. Saber pintar, saber dançar, saber esculpir, saber fotografar, saber tocar, saber compor". Resumindo, não creio que se possa chamar de arte, esse monte de coisa que faz sucesso hoje em dia, em dias passados (das últimas três décadas) e, muito provavelmente, nos que estão por vir.
Queiram me perdoar por tanto pessimismo e amargura, mas é inevitável. Vejam que, neste ano, os amantes da música poderão se lembrar que é o quadragésimo primeiro aniversário do belíssimo álbum que apresento agora; porém, simultaneamente, não nos será possível esquecer que estamos adentrando a terceira década de rala produção de música de qualidade - "Mas não se preocupe, meu amigo, com os horrores que eu lhe digo. ... A vida realmente é diferente, quer dizer: a vida é muito pior". Historicamente, podemos perceber que a tendência é que tudo piore cada vez mais.
Deixemos de lado todo o meu pessimismo catastrófico, e nos concentremos nas maravilhas que a internet proporciona. Por mais contraditório que possa parecer, eu me sinto muito entusiasmado com o "futuro" da música de qualidade. A justificativa é simples: desde o surgimento da internet, foram aparecendo, ao longo dos anos, milhares de obras fantásticas - que pareciam perdidas no tempo -, e o número aumenta à cada dia. Ou seja, fico muito feliz ao ligar a minha máquina, pois sei que vou ter a oportunidade de conhecer "novas velhas" pérolas da boa música. Faço um exercício de somar trinta e tantos ou quarenta anos às obras que descubro, para que eu tenha um novo lançamento de um determinado álbum em minhas mãos.
Em 2010, eu tive o prazer inenarrável de conhecer Le Piano Sous La Mer, que foi "lançado" pelo FANTÁSTICO PROGRESSIVE DOWNLOADS. Seguindo o meu raciocínio, 2010 é o ano de lançamento deste álbum, pois basta que somemos trinta e nove anos. Para quem o conhecer hoje, é só somar quarenta e um anos, para que 2013 seja seu ano de lançamento. Simples assim!
Deixando toda essa "viagem" de lado, voltemos à realidade. Este honrável álbum foi lançado em 1972. Ele contém algumas das mais belas melodias que já ouvi; alguns dos "arranjos mais bem arranjados"; inspiração suprema; essência de lirismo entorpecedor; além do poder de encantamento que eleva a alma com os mais belos sentimentos.
Um álbum forjado feito uma espada encantada da idade do ferro, daquelas que podemos imaginar ter sido concebida para a guerra, mas que, de tanta beleza e formosura, é reservada como uma escultura eterna que simboliza a paz.
A sétima faixa é algo de grandeza tamanha, cujas ideias melódicas, orquestrais e harmônicas só poderiam partir de um dos maiores gênios da música contemporânea. Há também a sua incrível capacidade de juntar músicos muito competentes, e, mais ainda, por conseguir fazer com que correspondessem às suas expectativas. A coisa chega a tal nível de perfeição, que o guitarrista parece ter saído da própria alma do autor, numa triunfante demonstração de correspondência de ideias e sentimentos.
No princípio, tudo é calmaria banhada pela belíssima e extraordinária melodia, em que os músicos são tremendamente obedientes ao orquestrador, que os impulsiona a seguir à risca o andamento da música. O vocalista é quem dá o tom com belíssimo solfejo, acompanhado dos instrumentos de base, tendo sempre o piano como marcador, do início ao fim da faixa, sempre numa eterna repetição das notas. Tudo está sob controle, até que a guitarra, como um bezerro desgarrado, desanda num frenesi alucinante, fazendo com que desandem, também, o baixo e a bateria. é como se o orquestrador perdesse o controle. Apenas o piano e o vocal são sempre os mesmos, até que o vocalista parece desistir e, por fim, se cala, e assiste a um processo "caótico", fantástico, inimaginável, um esgotamento total de todas as possibilidades musicais imagináveis. Dá-se uma progressão que parece ilustrar a mais singular beleza, sim, num processo "caoticamente" harmonioso, em que tudo parece desandar, mas cada virada louca da bateria encontra sempre o seu ponto de partida e chegada, com a marcação do piano incansável.
Não alcanço sequer uma vaga possibilidade de imaginar como essa música foi concebida em sua forma final. Eu me emocionei de verdade quando ouvi pela primeira vez essa pérola. Foi algo realmente incrível. Eu me arrepiava, ria e chorava; pedia que tudo aquilo não acabasse mais, e realmente não acabava; o solo de guitarra e a bateria pareciam travar uma batalha infinita, cujo única possibilidade de ruptura seria a explosão inevitável de tudo.
Assim como meu companheiro Mercenário Maldito, farei a inclusão de uma faixa bastante conhecida desse autor. Trata-se da música Concerto Pour Une Voix, do álbum homônimo, de 1969. É uma música que a maioria deve conhecer, sem mesmo saber quem é o autor, pois foi muito tocada no mundo todo. Durante muito tempo foi tema em um quadro do programa do radialista Alberto Brizola, na Rádio Mundial, em meados da década de 1980.
07 - Saint-Preux - Le Piano Sous La Mer(II)
(01) [Saint-Preux] CONCERTO POUR UNE VOIX
MÚSICAS: (1). Concerto pour une voix (Bonus) 01. Le Depart 02. Le Voyage 03. L'Appel De La Sirene 04. La Tempete 05. Le Naufrage 06. Le Piano Sous La Mer (I) 07. Le Piano Sous La Mer(II) 08. Le Concert Sous-Marin 09. La Rencontre 10. L'Ivresse Des Profondeurs 11. Le Gouffre Amer 12. L'Abime
MÚSICOS: Violino I: Patrice Mondon Violino II: Michel Guyot Alto: Alain Dubois Violoncelo: André Rolland baixo: Henri Woitkowiak Flauta: Thomas Prévost Piano: Saint-Preux Guitarra: Claude Engel Guitarra base: Antoine Rubio Bateria: Pierre-Alain Dahan Voz: Christian Padovan Orquestração de Saint-Preux LINK: http://www.mediafire.com/download/wkr5xy1rof9wkb7/Saint-Preux-Le+piano+sous+la+mer-1972.rar
Ouço com muita atenção os ventos que conduzem os sons que vêm do outro lado do planeta, mais precisamente, ventos que vêm do Japão. São ventos muito semelhantes aos que vêm de terras germânicas, britânicas, nórdicas, italianas ou francesas; sei lá, pois o som dos ventos, aparentemente, sempre carregam características semelhantes, de onde quer que venham. De onde quer que venham, os ventos trazem melodias. Melodias que marcam e tocam profundamente a alma de quem vaga pelo mundo a tatear a essência da existência; de quem se prontifica a ser tocado por essa essência. Os ventos me trouxeram as melodias da essência da sensibilidade da música que veio do Japão.
Quando ouço When The Raven Has Come To The Earth, tenho a sensação de que penetro na essência em si, como se o som fosse um passeio imaginário; numa sentimentalidade que transcende ossentidos; como uma tentativa de enquadrar uma paisagem que não pode ser fotografada; numa perfeita sensação que só pode ser imaginada; e cujo significado não pode ser traduzido. Insisto em definir o que se passa, mas percebo a volatilidade da minha percepção frente à infinitude da grandeza lírica dos acordes da guitarra, numa melodia inebriante, com apoio de um instrumental fantástico, com uma alucinógena e belíssima "flauta", cuja sonoridade parece tentar alcançar o infinito... When The Raven Has Come To The Earthé a última faixa do único e raro registro do Strawberry Path, cujo clima predominante no álbum é o hard blues rock, com poderosas e ácidas guitarras do início da década de 1970. Entretanto, a referida faixa, junto a outras duas, são casos à parte, pois são desenvolvidas através de linhas melódicas suaves e extremamente inspiradas, proporcionando momentos emocionantes de música progressiva.
Incrivelmente, a banda conta com apenas dois geniais multi instrumentistas que demonstram notável capacidade técnica e harmônica no desenvolvimento das músicas; o que é realmente impressionante e, até mesmo, intrigante, pois contém pérolas dignas de um grande e coeso conjunto musical.
No ano seguinte, houve uma reformulação na banda, com a inclusão de um novo membro, um baixista. Continuaram o projeto, mas mudaram o nome para Flied Egg. Com a nova formação e com novo nome, lançaram dois álbuns em 1972: Dr. Siegel's Fried Egg Shooting Machine e Good Bye Flied Egg.
Lamentavelmente a banda deu adeus aos seus projetos com o lançamento de Good Bye Flied Egg, como o próprio nome sugere. O álbum conta com quatro faixas ao vivo e três de estúdio. Esse fato sugere que era material antigo, o que parece evidenciar que o grupo já estivera desfeito antes mesmo do lançamento desse álbum.
É interessante notar que as duas pérolas do primeiro álbum são de alguma forma revisitadas nos dois álbuns seguintes. When The Raven Has Come To The Earth tem um final, eu diria, cruel, pois a faixa é reduzida a um final inglório, deixando a impressão de que poderia ser muito mais triunfante. Como se tivessem percebido tal falta, na última faixa do segundo álbum, no primeiro minuto, eles parecem dar continuidade aos acordes da grande pérola do primeiro, do ponto em que são interrompidos. Por fim, ao final da faixa, parecem fazer o fechamento da forma que poderia ser em When The Raven Has Come To The Earth.
Na última faixa do terceiro álbum - talvez a mais fantástica e completa de todas -, também parece haver certas referências ao primeiro álbum: no meio dela, noto certa semelhança melódica com When The Raven Has Come To The Earth. Já quase no final dessa grande maravilha do rock progressivo, podemos observar que o solo de guitarra é muito semelhante ao da terceira faixa do primeiro álbum.
Logo abaixo, deixo as faixas citadas acima para audição online, e os links para os três álbuns.
__________STRAWBERRY PATH-WHEN THE RAVEN HAS COME TO THE EARTH__________
1971
03 The Second Fate (Strawberry Path)
.
09 When The Raven Has Come To Earth (Strawberry Path)
MÚSICOS: - Shigeru Narumo / guitar, acoustic guitar, hammond organ, piano, bass, backing vocal - Hiro Tsunoda / drums, percussion, lead vocal, backing vocal MÚSICAS: 1. I Gotta See My Gypsy Woman 2. Woman Called Yellow 'Z' 3. The Second Fate 4. Five More Pennies 5. Maximum Speed Of Muji Bird (45 Seconds Of Schizophrenic Sabbath) 6. Leave Me Woman 7. Mary Jane On My Mind 8. Spherical Illusion 9. When The Raven Has Come To The Earth
Depois de seu irregular, mas admirável primeiro álbum, eis que o Raw Material surge com essa fantástica e singular obra. Uma incrível demonstração de evolução de técnica e refinamento musical. Um álbum repleto de amálgamas sonoras. estruturadas de forma extremamente madura e criativa, cuja sensibilidade transcorre de maneira aparentemente segura e natural.
Através de uma autêntica linha rockeira, típica dos primórdios setentistas, a banda faz sua requintada mistura de estilos, passeando pelo território do jazz com notável conhecimento de causa, mas de forma a não perder de vista seu objetivo principal: o rock progressivo. Influências e referências diversas podem ser facilmente notadas, reforçando mais do que inviabilizando suas qualidades, principalmente devido à inventividade estrutural, que combina elementos criativos e futurísticos para a época em que foi lançada a obra.
Os agradáveis e variados temas que ocorrem por todo o álbum, exibem cores e símbolos em tons e formas altamente sensíveis, em duradouras cargas de satisfação plena. Não são vagas e voláteis experiências auditivas, mas sim uma intensa viagem muito dignificante, possibilitada por instrumentistas de experiência notadamente precisa.
Olhando através da janela do tempo, Time Is pode ser visto como uma obra que faz deboche ao mau gosto que tem origem nas bandas que faziam suas misturas de estilos sem o menor compromisso melódico e harmônico. Esses, usavam o desperdício da criatividade, quando inseriam o ensaio em suas músicas, focando-se apenas na apresentação técnica e mecânica de seus instrumentos, de forma repetitiva e prolongada. Em vez disso, o Raw Material primava pelo compromisso estético e melódico, inserindo o jazz de forma delicada e moderada, num conjunto progressivo em sintonia com uma límpida, porém rígida e enérgica harmonização sonora.
A evidência de influências da música clássica e do jazz passeiam lado alado por todo o álbum. A utilização de instrumentos de sopro, como flauta e sax, intercalando com teclados, guitarra e violão, definem uma riqueza instrumental muito bem delineada, em temas complexos dotados de melodias inspiradíssimas. Baixo, bateria e guitarra base, complementam, de forma extremamente competente, o desenrolar desse raro registro do início da década de ouro da música de qualidade.
01 - Ice Queen
02 - Empty Houses
MÚSICAS: 01. Ice Queen 02. Empty Houses 03. Insolent Lady a) Bye The Way b) Small Thief c) Insolent Lady 04. Miracle Worker 05. Religion 06. Sun God a) Awakening b) Realization c) Worship MÚSICOS: - Colin Catt / lead vocals, keyboards - Mike Fletcher / saxophone, flute, vocals - Dave Green / guitar - Phil Gunn / bass - Cliff Harewood / lead guitar - Paul Young / drums, percussion LINK: http://www.mediafire.com/download/d3c97d5iycr8t1q/Raw_Material.rar