Hoje, amanheci com a lembrança de meu velho pai me acordando (desesperado) no dia 11 de setembro de 2001. Ele gritava meu nome, me sacudia, me puxava..., mas eu estava pregado. Ele insistiu até que eu acordasse - entre o sono e o despertar, eu pensava: meu pai não quer acordar seu filho para bater papo furado ou para fazer um passeio matinal ou, sequer, para reclamar de novo da música que eu, insistentemente, ouvia, no último volume, na noite anterior; tinha que ser alguma coisa muito séria.
Quando eu voltava a ver meu pai, já não falávamos no assunto. Ele tirava as conclusões dele, ouvindo os pronunciamentos de Bush na tv, e eu vivia com minha cabeça rodando, bombardeada com tantas informações oriundas dos "Caixotes do Saber" (como eu costumava me referir à Ilha do Fundão), que geravam cada vez mais inconclusões na minha "caixola". Eu vivia num mundo de debates sobre a legitimidade do terrorismo e sobre a retaliação do governo americano aos professores da Universidade de Harvard, por tentarem exprimir suas opiniões a repeito do terrorismo, que não eram nada favoráveis ao aos EUA.
Meu querido pai vivia em seu mundo, assimilando tudo que era favorável aos americanos, e descartava quaisquer possibilidades contrárias, sem fazer questionamentos. Era algo quase que religioso, nada abalava sua fé nos americanos. E eu, continuava com os miolos fritando, cada vez mais, em minhas vãs tentativas de tentar entender os motivos daquilo tudo. Com a invasão do Afeganistão já a passos largos, eu me perguntava: se a guerra declarada é legítima, aceitável, por que o terrorismo é tratado como marginal, como terror? E, ao mesmo tempo, ia surgindo a ideia de que eu era um tolo em me preocupar tanto com aquilo tudo, pois o mundo continuaria o mesmo...
Hoje, muito tempo depois, o mundo continua o mesmo. Continuam as guerras e o terrorismo, mas meu velho pai já não faz mais parte do meu mundo. Já não pode ver a que ponto chegamos após tanto tempo; em tempos em que se concluiu que os motivos dos ataques terroristas foram baseados na fatwa declarada em 1998; e que os terroristas gastaram em torno de 500 mil dólares para a realização do ataque; e que mataram mais de 3.000 pessoas. Se ele estivesse aqui, e eu dissesse a ele que só no Afeganistão morreram mais de 30.000, com gastos superiores a 400 bilhões de dólares, e no Iraque, mais de 150.000 mortos, ele diria que os americanos estavam no seu direito, ou coisa do tipo: quem mandou cutucar onça com vara curta? Coisa parecida com o pronunciamento do embaixador americano Ryan Crocker, em Cabul, dez anos após a tragédia: "...Estamos aqui para que nunca haja um outro 11 de Setembro vindo do solo afegão." Diante disso, eu perguntaria pro meu velho pai se ele acha que é legítimo matar mais de 30.000 só pra se previnir...
Hoje, pouco mais de dez anos após essa tragédia, meu pai já não está mais aqui. Já não pode mais reclamar do meu som, do meu rock'n roll que ecoa pelos ares em busca de uma reação dele... Não viveu o bastante para poder debater comigo os saldos desse episódio. Se ele estivesse aqui, eu tenho certeza que ficaríamos novamente tácitos e perplexos, diante do quadro atual, pois a conclusão disso tudo é que a tragédia real não foi o 11 de Setembro; que a verdadeira trajédia perdura até hoje; e é a tragédia humana, da vergonha humana, da intolerância humana; que o saldo é tragicamente negativo, pois já são em torno de 200.000 mortos - independendo se os motivos foram a fatwa, vingança ou prevenção; se os mortos foram americanos, iraquianos, afegãos, estrangeiros, soldados ou civis; o fato é que eram todos humanos e inocentes, pois os culpados foram os que engendraram tudo isso, os "senhores da guerra" que assistem tudo à distância.
Hoje, quando acordei, coloquei aquela música - imaginando a voz de meu pai reclamando -, aquela que eu ouvia no último volume, na noite anterior ao 11 de Setembro: Masters of War, de Bob Dylan, na solene interpretação de Eddie Vedder.
Masters of War
Hoje, muito tempo depois, o mundo continua o mesmo. Continuam as guerras e o terrorismo, mas meu velho pai já não faz mais parte do meu mundo. Já não pode ver a que ponto chegamos após tanto tempo; em tempos em que se concluiu que os motivos dos ataques terroristas foram baseados na fatwa declarada em 1998; e que os terroristas gastaram em torno de 500 mil dólares para a realização do ataque; e que mataram mais de 3.000 pessoas. Se ele estivesse aqui, e eu dissesse a ele que só no Afeganistão morreram mais de 30.000, com gastos superiores a 400 bilhões de dólares, e no Iraque, mais de 150.000 mortos, ele diria que os americanos estavam no seu direito, ou coisa do tipo: quem mandou cutucar onça com vara curta? Coisa parecida com o pronunciamento do embaixador americano Ryan Crocker, em Cabul, dez anos após a tragédia: "...Estamos aqui para que nunca haja um outro 11 de Setembro vindo do solo afegão." Diante disso, eu perguntaria pro meu velho pai se ele acha que é legítimo matar mais de 30.000 só pra se previnir...
Hoje, pouco mais de dez anos após essa tragédia, meu pai já não está mais aqui. Já não pode mais reclamar do meu som, do meu rock'n roll que ecoa pelos ares em busca de uma reação dele... Não viveu o bastante para poder debater comigo os saldos desse episódio. Se ele estivesse aqui, eu tenho certeza que ficaríamos novamente tácitos e perplexos, diante do quadro atual, pois a conclusão disso tudo é que a tragédia real não foi o 11 de Setembro; que a verdadeira trajédia perdura até hoje; e é a tragédia humana, da vergonha humana, da intolerância humana; que o saldo é tragicamente negativo, pois já são em torno de 200.000 mortos - independendo se os motivos foram a fatwa, vingança ou prevenção; se os mortos foram americanos, iraquianos, afegãos, estrangeiros, soldados ou civis; o fato é que eram todos humanos e inocentes, pois os culpados foram os que engendraram tudo isso, os "senhores da guerra" que assistem tudo à distância.
Hoje, quando acordei, coloquei aquela música - imaginando a voz de meu pai reclamando -, aquela que eu ouvia no último volume, na noite anterior ao 11 de Setembro: Masters of War, de Bob Dylan, na solene interpretação de Eddie Vedder.
Masters of War
4 comentários:
Obrigado Fausto pela emocionante crônica da vida real.
Abs,
Saudações Mister Garden,
Que bom ter você por aqui, meu amigo!
Te agradeço pela participação e pela atenção.
Imaginei que ninguém teria saco para ouvir minhas baboseiras, e, muito menos, para comentá-las. Muito obrigado mesmo.
Forte abraço!
Faustodevil
Sim, meu amigo.
Lembro-me de você comentar tudo isso que tinha ocorrido. E imagino a expressão de seu pai, americanista até a alma.
Se aquele episódio marcou algo, foi o início do declínio econômico daquele país.
E o pior é que acho que sentiremos falta dos americanos quando a China finalmente emergir à condição de maior nação mundial.
Saudações, meu grande amigo,
Você tem toda razão quanto aos chineses. E o pior é que eles pensam da mesma forma ou pior que os americanos, em relação aos outros países. Eles costumam dizer: "somos nós e a periferia", quando se referem ao resto do mundo. É amedrontador.
Um grande abraço!!
Apareça mais vezes.
Faustodevil
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