NIETZSCHE

"E aqueles que foram vistos dançando, foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música". "Vida sem música é um equívoco". NIETZSCHE

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

[RE POST] NICK CAVE-NO MORE SHALL WE PART-AUSTRÁLIA 2001









No More Shall We Part derramou intensos debates no mundo da música, no que se refere à crítica musical, pois Nick Cave traz em sua bagagem uma gama de inovações sonoras que, definitivamente, agrada apenas a poucos. Suas viagens musicais tendem a inovações sonoras um tanto, eu diria, inimagináveis. Não segue nenhuma tendência, estando sempre na contramão do contexto comercial.

Nick Cave me chamou atenção - além de sua genialidade - por ser um artista que desafia o óbvio - assim como fez Bob Dylan em seu tempo, quando todos pareciam contra o rumo que ele escolheu para sua arte. Dylan passou por cima de tudo, de todos os preconceitos, por amor a sua arte; a que ele escolheu, e não a que queriam pra ele.

Há em Cave uma louca alusão a Jim Morrison e Lou Reed, referente à forma de cantar. Em suas longas e letárgicas letras, "quase" não consegue tempo para encaixar as frases nos acordes. É algo realmente encantador e desafiador, e soa tão divinamente bem, que talvez nem mesmo Dylan fosse capaz de cumprir tão bem tal façanha. Bons exemplos são as faixas God in the House e Hallelujah. Ele utiliza-se do estilo de canto falado de Lou Reed a fim de ser bem sucedido nesta difícil tarefa, para logo em seguida, terminar cada frase musical com melodias sublimes, de forma às vezes singela; em outras, sombria e melancólica.

Há neste álbum a colocação da bateria com timbres, em que se duvida que foi concebido no ano 2001; fato que ocorre principalmente nas faixas mórbidas e magníficas Fiffteen Feet Pure White Snow, Oh my Lord e na surpreendente Sorrowful Wife, que inicia com o sinistro e calmo vocal de Cave intercalando com seu melódico e melancólico piano, e, de repente, torna-se avassaladora; uma porrada maravilhosa que lembra o estilo agressivo da faixa The Nile Song do álbum More do Pink Floyd, remetendo-nos maravilhosamente bem ao bom e velho rock'n roll setentista; uma verdadeira descarga de sentimentos expressos na mais bela das artes.

O álbum também conta com canções de instrumental simplório, soando até aparentemente como músicas inocentes, mas é também aí que ocorre o inusitado no trabalho deste artista inquieto e inquietante. Sua inseparável e competente banda The Bad Seeds o acompanha, música por música, dosando precisamenate o instrumental para que se enquadre às propostas musicais e existenciais de Cave, com suas letras sinceras, dramáticas e macabras, e suas melodias poderosas e tenebrosas, quase fúnebres.
Para finalizar as vãs tentativas de traduzir em palavras, este álbum riquíssimo em todos os campos que a música pode permitir, deixarei parte das palavras de Nick Hornby:

"No More Shall We Part, assim como muito do trabalho de Nick Cave, é algumas vezes tão relutante em agradar e tão exigente de sua atenção, quanto uma criança pequena. E isso ainda pode explicar porque é um alívio entrar em seu mundo asfixiante, ocasionalmente exaustivo. Em uma época em que até mesmo o mais intimidador hip hop ou heavy metal parecem desenhados para nos vender algo - um filme, uma partida de luta livre ou um estilo de vida - a música de Cave não parece remotamente interessada em vender nada. Isto é, uma música feita por um artista, nos moldes antigos, no senso do século XX. Não vai fazer cave ganhar um monte de dinheiro, mas é a música dele, e nossa, se nós quisermos que ela o seja, e pela qual nós devemos ser gratos."
Esta resenha na íntegra, aqui: http://www.screamyell.com.br/musica/nomoreshall.html

Aproveito a repostagem deste álbum, para acrescentar mais uma música para audição on line: Sorrow's Child. Ela é originária do álbum The Good Son, e está aqui porque foi a primeira que ouvi de Cave. Lembro-me que foi em certa manhã de domingo, na extinta e saudosa rádio Tribuna, de Petrópolis. Fiquei fascinado com a voz de Cave. Desde o primeiro instante eu percebi que havia grandeza por trás daquilo: uma voz forte, estranha e triste, num visível esforço para se integrar à suave, belíssima e encantadora melodia da composição. E a certeza de que eu não estava enganado, foi com o desfecho da música: o final, com quase dois minutos de um instrumental triunfante. O magnífico piano de Cave é perseguido por uma orquestração lírica, quase triste, formando um conjunto que perpetua uma melodia que emociona e encanta a alma.

03 - Sorrow's Child


09-The Sorrowful Wife (aconselho que ouçam até o 3º min, puro veneno!)


05-Fifteen Feet Of Pure White Snow



06-God is in the house
 

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