NIETZSCHE

"E aqueles que foram vistos dançando, foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música". "Vida sem música é um equívoco". NIETZSCHE

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

SAINT PREUX-LE PIANO SOUS LA MER-FRANÇA 1972



No tempo em que a busca por solidez sonora era certa na aquisição de um novo vinil,  em que o canto era encanto e vice-versa. No tempo em que a nova aquisição de um álbum era de olhos fechados: um novo lançamento do Zeppelin ou King Crimson, de Chico Buarque ou Elis Regina, era sempre motivo de euforia e de certeza, da mais absoluta, de que se teria mais um álbum que ficaria marcado para a eternidade. No tempo em que cada vibração de cordas vocais ou de cada execução de instrumento musical, tinha-se a vibração ou um toque da alma do artista;  assim eram as décadas de 1960 e 1970; e, em 1972, Saint Preux - um jovem compositor de música erudita - concebeu uma das mais belas pérolas da música instrumental progressiva.
Na atualidade, ou melhor, a partir da década de 1980, eclodiu a "pasteurização" da arte musical. Atualmente, uma criança de sete ou oito anos, ou menos, deseja ser presenteada com o mesmo álbum que os pais ouvem. Tem alguma coisa de muito errada aí - uma criança dessa idade deveria vomitar frente ao gosto musical de seus pais, salvo raríssimas exceções. O gosto musical dos últimos tempos faz parecer que estamos vivendo um pesadelo - todo esse lixo sonoro era inimaginável na década de 1970. O que havia de pior naquelas décadas, tinha um mínimo de compromisso com a arte musical. O que assistimos no cenário musical de hoje, é como se imaginássemos algo inferior ao esboço da arte; um estilo de pintura em que todas as telas fossem desprovidas de formas; todas as poesias isentas de palavras... Hoje, precisamos forçar nossos sentidos a um nível de exaustão suprema, para que possamos filtrar algo com proximidade ao belo.
Eu me sinto conformado, com certa ternura, quando uma criança critica meu gosto musical; da mesma forma, me choco quando me deparo com um adulto que ouve no som do carro, no último volume, o que rotularam de  "sertanejo universitário".
Tenho um sobrinho que tem certa queda para a música de qualidade - vez ou outra coloco algumas peças progressivas pra ele; sempre algo mais suave, devido a sua idade (quatorze anos), para que ele possa degustar com facilidade. Certa vez ele indagou sobre minha admiração por Chico Buarque. Ele não conseguia entender o porquê. É justamente neste ponto que reside a questão: creio que uma criança da idade dele, não tenha base para entender a complexidade da música de Chico - salvo raras exceções, apesar do precoce e refinado gosto musical dele.
Também me espanta quando ouço dizer que Bochecha é o Tim Maia dos nossos tempos - palavras de Caetano. Todas essas questões levam a uma velha confusão entre o que é arte e o que é expressão de arte. Nas sábias palavras do grande poeta Ferreira Gullar: "Toda arte é expressão, mas nem toda expressão é arte"; "Se alguém começa a bater numa lata, emite sons; não produz arte"; "Arte, portanto, pressupõe 'saber fazer'. Saber pintar, saber dançar, saber esculpir, saber fotografar, saber tocar, saber compor". Resumindo, não creio que se possa chamar de arte, esse monte de coisa que faz sucesso hoje em dia, em dias passados (das últimas três décadas) e, muito provavelmente, nos que estão por vir.
Queiram me perdoar por tanto pessimismo e amargura, mas é inevitável. Vejam que, neste ano, os amantes da música poderão se lembrar que é o quadragésimo primeiro aniversário do belíssimo álbum que apresento agora; porém, simultaneamente, não nos será possível esquecer que estamos adentrando a terceira década de rala produção de música de qualidade - "Mas não se preocupe, meu amigo, com os horrores que eu lhe digo. ... A vida realmente é diferente, quer dizer: a vida é muito pior". Historicamente, podemos perceber que a tendência é que tudo piore cada vez mais.
Deixemos de lado todo o meu pessimismo catastrófico, e nos concentremos nas maravilhas que a internet proporciona. Por mais contraditório que possa parecer, eu me sinto muito entusiasmado com o "futuro" da música de qualidade. A justificativa é simples: desde o surgimento da internet, foram aparecendo, ao longo dos anos, milhares de obras fantásticas - que pareciam perdidas no tempo -, e o número aumenta à cada dia. Ou seja, fico muito feliz ao ligar a minha máquina, pois sei que vou ter a oportunidade de conhecer "novas velhas" pérolas da boa música. Faço um exercício de somar trinta e tantos ou quarenta anos às obras que descubro, para que eu tenha um novo lançamento de um determinado álbum em minhas mãos.
Em 2010, eu tive o prazer inenarrável de conhecer Le Piano Sous La Mer, que foi "lançado" pelo FANTÁSTICO PROGRESSIVE DOWNLOADS. Seguindo o meu raciocínio, 2010 é o ano de lançamento deste álbum, pois basta que somemos trinta e  nove anos. Para quem o conhecer hoje, é só somar quarenta e um anos, para que 2013 seja seu ano de lançamento. Simples assim!
Deixando toda essa "viagem" de lado, voltemos à realidade. Este honrável álbum foi lançado em 1972. Ele contém algumas das mais belas melodias que já ouvi; alguns dos "arranjos mais bem arranjados"; inspiração suprema; essência de lirismo entorpecedor; além do poder de encantamento que eleva a alma com os mais belos sentimentos.
Um álbum forjado feito uma espada encantada da idade do ferro, daquelas que podemos imaginar ter sido concebida para a guerra, mas que, de tanta beleza e formosura, é reservada como uma escultura eterna que simboliza a paz.
A sétima faixa é algo de grandeza tamanha, cujas ideias melódicas, orquestrais e harmônicas só poderiam partir de um dos maiores gênios da música contemporânea. Há também a sua incrível capacidade de juntar músicos muito competentes, e, mais ainda, por conseguir fazer com que correspondessem às suas expectativas. A coisa chega a tal nível de perfeição, que o guitarrista parece ter saído da própria alma do autor, numa triunfante demonstração de correspondência de ideias e sentimentos. 
No princípio, tudo é calmaria banhada pela belíssima e extraordinária melodia, em que os músicos são tremendamente obedientes ao orquestrador, que os impulsiona a seguir à risca o andamento da música. O vocalista é quem dá o tom com belíssimo solfejo, acompanhado dos instrumentos de base, tendo sempre o piano como marcador, do início ao fim da faixa, sempre numa eterna repetição das notas. Tudo está sob controle, até que a guitarra, como um bezerro desgarrado, desanda num frenesi alucinante, fazendo com que desandem, também, o baixo e a bateria. é como se o orquestrador perdesse o controle. Apenas o piano e o vocal são sempre os mesmos, até que o vocalista parece desistir e, por fim, se cala, e assiste a um processo "caótico", fantástico, inimaginável, um esgotamento total de todas as possibilidades musicais imagináveis. Dá-se uma progressão que parece ilustrar a mais singular beleza, sim, num processo "caoticamente" harmonioso, em que tudo parece desandar, mas cada virada louca da bateria encontra sempre o seu ponto de partida e chegada, com a marcação do piano incansável.
Não alcanço sequer uma vaga possibilidade de imaginar como essa música foi concebida em sua forma final. Eu me emocionei de verdade quando ouvi pela primeira vez essa pérola. Foi algo realmente incrível. Eu me arrepiava, ria e chorava; pedia que tudo aquilo não acabasse mais, e realmente não acabava; o solo de guitarra e a bateria pareciam travar uma batalha infinita, cujo única possibilidade de ruptura seria a explosão inevitável de tudo.  

Assim como meu companheiro Mercenário Maldito, farei a inclusão de uma faixa bastante conhecida desse autor. Trata-se da música Concerto Pour Une Voix, do álbum homônimo, de 1969. É uma música que a maioria deve conhecer, sem mesmo saber quem é o autor, pois foi muito tocada no mundo todo. Durante muito tempo foi tema em um quadro do programa do radialista Alberto Brizola, na Rádio Mundial, em meados da década de 1980. 

07 - Saint-Preux - Le Piano Sous La Mer(II)



(01) [Saint-Preux] CONCERTO POUR UNE VOIX 


MÚSICAS:

(1). Concerto pour une voix (Bonus)
01. Le Depart
02. Le Voyage
03. L'Appel De La Sirene
04. La Tempete
05. Le Naufrage
06. Le Piano Sous La Mer (I)
07. Le Piano Sous La Mer(II)
08. Le Concert Sous-Marin
09. La Rencontre
10. L'Ivresse Des Profondeurs
11. Le Gouffre Amer
12. L'Abime


MÚSICOS:

Violino I: Patrice Mondon
Violino II: Michel Guyot
Alto: Alain Dubois
Violoncelo: André Rolland
baixo: Henri Woitkowiak
Flauta: Thomas Prévost
Piano: Saint-Preux
Guitarra: Claude Engel
Guitarra base: Antoine Rubio
Bateria: Pierre-Alain Dahan
Voz: Christian Padovan
Orquestração de Saint-Preux


LINK:
http://www.mediafire.com/download/wkr5xy1rof9wkb7/Saint-Preux-Le+piano+sous+la+mer-1972.rar