O grupo Dalton surgiu das profundezas italianas, das cinzas de outra banda do final da década de 1960, também chamada Dalton, cujo estilo musical pouco se assemelha ao que é apresentado aqui. Dos músicos da década de 1960 - em que Mauro Pagani fazia parte, antes de integrar o PMF -, só restou o tecladista Temistocle Reduzzi, pra reformular a banda em 1973. Este novo grupo emergiu para apresentar uma nova proposta, notadamente muito mais grandiosa e inovadora , apresentando um estilo progressivo fantástico, repleto de influências claramente perceptíveis, entretanto esbanjando originalidade.
Das influências mais gritantes, podemos vivenciar momentos muito familiares de guitarra, flauta e teclado, que nos remetem a Zeppelin, Jethro Tull e New Trolls, respectivamente. Entretanto, tais referências são pontuais, ou seja, é uma obra dotada de originalidade, em que a genialidade da banda supera as expectativas.
É interessante a forma como se dá o amadurecimento do gosto por essa obra que, apesar de músicas relativamente curtas, é capaz de nos envolver nos pequenos detalhes da concepção em si, que vão desde cativantes arranjos instrumentais, passando pela harmonia impecável e por composições demasiadamente audaciosas, a melodias impregnadas de sensibilidade.
Ouvindo a obra de forma sequencial e ininterrupta, tem-se a sensação de unicidade, de continuidade, apesar das características singulares de cada faixa. Talvez até a intenção de Idea D''infinito, citada no título da obra, tenha uma ligação direta com essa questão, pois todas as faixas são interligadas, com exceção da terceira pra quarta música; o que é um dos pontos intrigantes do álbum. Há uma frase musical, que ocorre em quase todas as faixas, que também é algo bastante intrigante. Ela está no início e no final da segunda faixa, no início e no final da terceira, no final da quarta, no início e no final da quinta e no início da sexta e última faixa. É estranho, pois as faixas estão interligadas, mas a "ideia de infinito" parece que é interrompida em alguns momentos. Mas uma coisa é certa: a beleza da obra não tem limites.
01_ Dalton - Idea D_infinito
02_ Dalton - Stagione Che Muore
MÚSICAS: 1. Idea D'Infinito 2. Stagione Che Muore 3. Cara Emily 4. Riflessioni 5. Un Bambino, Un Uomo, Un Vecchio 6. Dimensione Lavoro MÚSICOS:
- Temistocle Reduzzi / piano, organ,mellotron, moog, synth and vocals - Aronne Cereda / acoustic and electric guitars, vocals - Rino Lamonta / bass guitar and vocals - Walter "Tati" Locatelli / drums and vocals - Alex Chiesa / flute and vocals
Único álbum dessa banda de hard rock com alguma influência de progressivo. Eu o enquadrei na lista de álbuns que possuem uma faixa que se destaca profundamente das restantes.
É um obra relativamente interessante, contendo composições interessantes com ótimos arranjos instrumentais, incluindo sax, flauta, clarinete, trompete, dentre outros, e um ótimo vocalista - recém saído de outra banda holandesa chamada Dragonfly, que lançou o ótimo álbum Celestial Dreams em 1968.
Entretanto, o grande trunfo do álbum fica a cargo da belíssima Sunset Eye, disparadamente a melhor, fazendo valer o álbum como peça indispensável em qualquer coleção. Parece que os caras concentraram toda energia para esta, que é a última faixa do álbum, pois é realmente uma raridade de tirar o fôlego e arrancar do ouvinte exclamações profundas.
Já na introdução, uma guitarra fazendo base e outra solando, logo em seguida, ainda na introdução, surge a fantástica base - que é o força propulsora de toda a faixa, composta de guitarra, baixo e bateria -, seguida de um solo de sax tenor. O vocal se apresenta de forma arrebatadora, com todo sua fúria e lirismo, sempre acompanhado do maravilhoso órgão hammond. Lá pelo meio da faixa, o vocal dá lugar a um lindo e inspiradíssimo solo de trompete, o que agrega muito mais beleza à esta música maravilhosa. O vocal assume novamente seu importante papel, até a chegada do alucinante solo de guitarra, com um timbre rasgado e de uma melodia encantadora. É um daqueles solos que merecem entrar para a galaria dos melhores de todos os tempos. Simplesmente entorpecedor! E a faixa ainda continua por mais algum tempo, com um belíssimo piano solando, soando de forma desproporcional diante daquela monumental base e magníficas viradas da batera.
08-sunset eye
MÚSICAS:
1-Rainmaker 2-Virgin 3-Say goodbye to your friends 4-God's children 5-Old black magic 6-Spanish roads 7-Lonesome tree 8-Sunset eye
MÚSICOS: John Caljouw: Vocals Francois Content: Trumpet Wim Warby: Tenor sax Maarten Beckers: Saxophone, flute, clarinet Hans Sel: Guitar Paul Vink: Keyboards Jan Warby: Bass guitar Jan Bliek: Drums
Acredito que Guilherme Arantes daria um bom estudo de caso para a psicologia - bem como tantos outros músicos brasileiros e estrangeiros -, pois por ter passado, voluntariamente, de grande músico, letrista e compositor do cenário nacional, para bestial contribuinte para a produção de lixo sonoro que promove a manutenção da miséria humana. Se bem que, em verdade, pouquíssimos músicos da década de 1970 mantiveram o nível de qualidade de outrora.
Confesso que tenho consciência de que estou sendo severo quanto à questão, pois sei que há uma infinidade de fatores que levam o artista a se vender, tais como: históricos, mercadológicos, econômicos e tendências políticas e culturais. Entendo perfeitamente que o artista acaba sendo pressionado a escolher acompanhar o estado das coisas ou então, manter suas paixões artísticas e correr o risco de cair no esquecimento - como aconteceu com tantos artistas ao longo da história.
O que está feito, está feito! Mas será que não poderia ser diferente? Praticamente do final da década de 1960 ao final da de 1970, na grande maioria dos casos, foram os artistas que definiram os movimentos culturais. Quando eles apresentavam suas ideias, a parcela mais intelectualizada da sociedade aprovava e aplaudia. A "grande massa" aceitava de bom grado, pois para esta - a parcela menos favorecida intelectualmente -, não importava se era ou não música de qualidade, desde que tocasse nas novelas e nas paradas das emissoras de rádio; eles só queriam que as músicas os fizessem balançar o esqueleto ou que tocassem seus corações, e quando eram muito complexas, eles descartavam. Enfim, o mercado absorvia o que os artistas ofereciam, e distribuía a todos. Havia música para todos os gostos, e, em sua grande maioria, com um mínimo de qualidade e de compromisso com a arte.
Infelizmente, no atual cenário musical - em que há uma intensa involução dessa arte -, fica fácil observar que a música de hoje não é mais feita para todos, como no passado. Hoje há prejudicados e beneficiados. O mercado, certamente, é o mais beneficiado. A grande massa é também beneficiada, pois o que não falta é produção de lixo sonoro descartável. De outra forma, ela também é prejudicada, mas a médio e longo prazo, pois há uma mudança de valores que é, em parte, causada por tanta coisa ruim, ou pela falta de conteúdo de qualidade. Por fim, os mais prejudicados são, sem sombra de dúvida, os amantes da música de qualidade. Parafraseando a mim mesmo, digo que esta parcela da sociedade está fadada a cavucar nos escombros do passado para conseguir algo consistente, pois não há quase nada sendo produzido pra ela.
A grande verdade disso tudo é que todos sairão prejudicados com esse abandono do compromisso com a qualidade, com essa ruptura com o modelo das décadas de ouro da música. Eu acredito que a arte é um dos fatores essenciais para a construção da essência social do homem. É angustiante pensar o que será dos jovens no futuro, com um presente saturado de miasmas oriundos da putrefação da arte musical.
Voltando ao passado, antes de falar do Moto Perpétuo, vou comentar a faixa Amanhã, do álbum Ronda Noturna, de 1977, que foi o segundo da carreira solo de Guilherme Arantes. Fico imaginando o impacto que essa música causou quando do seu lançamento. Confesso que imagino que seria impraticável seu lançamento hoje em dia, pois ela tem 7:39m e é repleta de ingredientes progressivos, de lirismo, de poesia. Uma música feita pra todos os gostos (daquela época). No minuto 4:03 finaliza tudo e começa um arranjo vocal que segue sem instrumentos, intercalando apenas com o silêncio, e assim vai por quase um minuto, até que surge um piano, e as vozes se fundem num coro inspirado, simultaneamente à eclosão do fantástico instrumental progressivo, com orquestra de cordas e uma guitarra alucinante, tudo numa progressão intensa, até o final. Música da mais alta qualidade e um dos grandes registros do progressivo. No entanto, até hoje, quando toca no rádio, não é na íntegra. Até mesmo nas coletâneas do autor, ela é cortada. (a faixa está no player abaixo para audição online)
Quanto ao Moto Perpétuo, eles lançaram dois álbuns: o homônimo, em 1974, e São Quixote, em 1981. O segundo álbum só teve a participação de Guilherme Arantes tocando teclados em algumas faixas, pois ele abandonara a banda em 1975, para começar sua bem sucedida carreira solo.
É um álbum com letras e composições de alta qualidade. Com instrumental impecável, os músicos dão corpo e espírito às músicas, com precisão e carisma, seguindo uma linha progressiva bem ao estilo da época. Baixo e bateria estão à altura das grandes bandas daquele período.
A maioria das músicas é relativamente curta, o que deixa a desejar um pouco, pois em decorrência disso, não se reserva espaço para solos pertinentes dos teclados, guitarras e violoncelo. O que é um tanto decepcionante, pois dá uma sensação de subtração, visto que as composições clamam por supostos belíssimos solos. No entanto, apesar de raros, os solos existentes são, de certa forma, compensadores, e a bela e afinada voz de Guilherme Arantes se encaixa perfeitamente ás estruturas das músicas, proporcionando uma agradável viagem sonora.
03 - Verde vertente
05 - Três e eu
_Amanhã _ Guilherme Arantes
MÚSICAS:
01 - Mal O Sol 02 - Conto Contigo 03 - Verde Vertente 04 - Matinal 05 - Três E Eu 06 - Não Reclamo Da Chuva 07 - Duas 08 - Sobe 09 - Seguir Viagem 10 - Os Jardins 11 - Turba
MÚSICOS:
Guilherme Arantes - keyboards, vocals Egydio Conde - guitar and vocals Burani Diogenes - percussion and voice Gerson Tatini - bass and vocals Claudio Lucci - acoustic guitar, cello, guitar and vocals LINK: http://www.mediafire.com/?59e5v6zkuv7i1zb
Belíssima raridade que só tinha sido lançada de forma independente, ficando perdida até o lançamento do CD em 2003. Ou seja, mais um daqueles casos que não se pode entender, pois trata-se de uma banda repleta de valores expressivos. Felizmente, mesmo independentes, permaneceram na estrada de 1969 até 1974, cujo resultado foi o registro de quatro álbuns, sendo este, o terceiro.
Michels Wolfganf é a grande figura que merece boa parcela dos créditos pela realização desse álbum, pois foi o mentor das composições, das letras e da produção. Esse cara é bastante cultuado em seu país, tanto por sua carreira solo quanto por sua participação ativa na banda. Ele é realmente uma figura fora da curva, detentor de uma aspereza poética, em suas letras, quando fala da guerra e de suas inquietações existencialistas.
As faixas do álbum são resultado de uma mistura de folk rock, progressivo, rithm'n blues e música psicodélica. Algumas faixas são combinações acústicas, em que flautas, pianos e violões desempenham um papel fundamental, somando na criatividade das composições.
Topical Barainforest é simplesmente fantástica! Música inteligente com vocal altamente inspirado e agradável. O instrumental é sensível e cativante, tendo a flauta e o piano como representantes da beleza, e a bateria desempenhando o papel de firmeza e precisão.
Creature Called Man segue a mesma linha de beleza cativante. Os vocais são inspiradíssimos no reforço dessa belíssima canção.
É muito gratificante saber que ainda há bandas totalmente originais, e fora do cotexto comercial e depreciador da atualidade. Muito satisfatório ouvir música de qualidade feita por músicos que tem a arte em primeiro plano.
02-Tropical Brainforest
04-Creature Called Man
MÚSICAS:
01. Welcome To The Madness - 0:33 02. Tropical Brainforest - 5:04 03. Who's The Sailor - 4:35 04. Creature Called Man - 5:28 05. Doing It - 3:28 06. The Carcrash - 7:48 07. That Singer Is Right - 2:50 08. Grey Sunday - 2:57 09. It's All Over - 4:21 10. Cry Out (Why Don't You Smile At Least) - 5:02-bônus 11. Chicago (Live 1972) - 13:02-bônus
MÚSICOS:
- Wolfgang Michels - lead & backing vocals, electric & acoustic guitar, producer - Klaus Kaufmann - piano - Hans-Jürgen "Jojo" Ludwig - drums, percussion, Spanish guitar (05) - Edgar Muschketat - mouth-organ, sound effects, percussion, backing vocals - Thomas Moench - flute