NIETZSCHE

"E aqueles que foram vistos dançando, foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música". "Vida sem música é um equívoco". NIETZSCHE

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

MOTO PERPÉTUO-MOTO PERPÉTUO-BRASIL 1974





Acredito que Guilherme Arantes daria um bom estudo de caso para a psicologia - bem como tantos outros músicos brasileiros e estrangeiros -, pois por ter passado, voluntariamente, de grande músico, letrista e compositor do cenário nacional, para bestial contribuinte para a produção de lixo sonoro que promove a manutenção da miséria humana. Se bem que, em verdade, pouquíssimos músicos da década de 1970 mantiveram  o nível de qualidade de outrora. 
Confesso que tenho consciência de que estou sendo severo quanto à questão, pois sei que há uma infinidade de fatores que levam o artista a se vender, tais como: históricos, mercadológicos,  econômicos e tendências políticas e culturais. Entendo perfeitamente que o artista acaba sendo pressionado a escolher acompanhar o estado das coisas ou então, manter suas paixões artísticas e correr o risco de cair no esquecimento - como aconteceu com tantos artistas ao longo da história.
O que está feito, está feito! Mas será que não poderia ser diferente? Praticamente do final da década de 1960 ao final da de 1970, na grande maioria dos casos, foram os artistas que definiram os movimentos culturais. Quando eles apresentavam suas ideias, a parcela mais intelectualizada da sociedade aprovava e aplaudia. A "grande massa" aceitava de bom grado, pois para esta - a parcela menos favorecida intelectualmente -, não importava se era ou não música de qualidade, desde que tocasse nas novelas e nas paradas das emissoras de rádio; eles só queriam que as músicas os fizessem balançar o esqueleto ou que tocassem seus corações, e quando eram muito complexas, eles descartavam. Enfim, o mercado absorvia o que os artistas ofereciam, e distribuía a todos. Havia música para todos os gostos, e, em sua grande maioria, com um mínimo de qualidade e de compromisso com a arte.
Infelizmente, no atual cenário musical - em que há uma intensa involução dessa arte -, fica fácil observar que a música de hoje não é mais feita para todos, como no passado. Hoje há prejudicados e beneficiados. O mercado, certamente, é o mais beneficiado. A grande massa é também beneficiada, pois o que não falta é produção de lixo sonoro descartável. De outra forma, ela também é prejudicada, mas a médio e longo prazo, pois há uma mudança de valores que é, em parte, causada por tanta coisa ruim, ou pela falta de conteúdo de qualidade. Por fim, os mais prejudicados são, sem sombra de dúvida, os amantes da música de qualidade. Parafraseando a mim mesmo, digo que esta parcela da sociedade está fadada a cavucar nos escombros do passado para conseguir algo consistente, pois não há quase nada sendo produzido pra ela.   
A grande verdade disso tudo é que todos sairão prejudicados com esse abandono do compromisso com a qualidade, com essa ruptura com o modelo das décadas de ouro da música. Eu acredito que a arte é um dos fatores essenciais para a construção da essência social do homem. É angustiante pensar o que será dos jovens no futuro, com um presente saturado de miasmas oriundos da putrefação da arte musical.
Voltando ao passado, antes de falar do Moto Perpétuo, vou comentar a faixa Amanhã, do álbum Ronda Noturna, de 1977, que foi o segundo da carreira solo de Guilherme Arantes. Fico imaginando o impacto que essa música causou quando do seu lançamento. Confesso que imagino que seria impraticável seu lançamento hoje em dia, pois ela tem 7:39m e é repleta de ingredientes progressivos, de lirismo, de poesia. Uma música feita pra todos os gostos (daquela época). No minuto 4:03 finaliza tudo e começa um arranjo vocal que segue sem instrumentos, intercalando apenas com o silêncio, e assim vai por quase um minuto, até que surge um piano, e as vozes se fundem num coro inspirado, simultaneamente à eclosão do fantástico instrumental progressivo, com orquestra de cordas e uma guitarra alucinante, tudo numa progressão intensa, até o final.  Música da mais alta qualidade e um dos grandes registros do progressivo. No entanto, até hoje, quando toca no rádio, não é na íntegra. Até mesmo nas coletâneas do autor, ela é cortada. (a faixa está no player abaixo para audição online)
Quanto ao Moto Perpétuo, eles lançaram dois álbuns: o homônimo, em 1974, e São Quixote, em 1981.  O segundo álbum só teve a participação de Guilherme Arantes tocando teclados em algumas faixas, pois ele abandonara a banda em 1975, para começar sua bem sucedida carreira solo.
É um álbum com letras e composições de alta qualidade. Com instrumental impecável, os músicos dão corpo e espírito às músicas, com precisão e carisma, seguindo uma linha progressiva bem ao estilo da época. Baixo e bateria estão à altura das grandes bandas daquele período.
A maioria das músicas é relativamente curta, o que deixa a desejar um pouco, pois em decorrência disso, não se reserva espaço para solos pertinentes dos teclados, guitarras e violoncelo. O que é um tanto decepcionante, pois dá uma sensação de subtração, visto que as composições clamam por supostos belíssimos solos. No entanto, apesar de raros, os solos existentes são, de certa forma, compensadores, e a bela e afinada voz de Guilherme Arantes se encaixa perfeitamente  ás estruturas das músicas, proporcionando uma agradável viagem sonora.

03 - Verde vertente


05 - Três e eu

_Amanhã _ Guilherme Arantes



MÚSICAS:


01 - Mal O Sol
02 - Conto Contigo
03 - Verde Vertente
04 - Matinal
05 - Três E Eu
06 - Não Reclamo Da Chuva
07 - Duas
08 - Sobe
09 - Seguir Viagem
10 - Os Jardins
11 - Turba



MÚSICOS:

Guilherme Arantes - keyboards, vocals
Egydio Conde - guitar and vocals
Burani Diogenes - percussion and voice
Gerson Tatini - bass and vocals
Claudio Lucci - acoustic guitar, cello, guitar and vocals 


LINK:
http://www.mediafire.com/?59e5v6zkuv7i1zb