Não são poucos os problemas de gestão ambiental no território brasileiro, aliás este é um grave problema que afeta grande parte dos países do globo terrestre, tanto os mais quanto os menos desenvolvidos.
Os países desenvolvidos vivem o dilema do progresso contra o meio ambiente, ou seja, na frenética e gananciosa corrida para se manter no topo da economia global, exploraram massivamente seus recursos naturais - numa época em que não havia "tempo" para pensar no desenvolvimento de técnicas de estudo de impacto ambiental -, determinando, assim, o grande paradoxo do nosso tempo: a exploração dos recursos naturais é a chave para o bem e o mal estar da humanidade. Hoje, pagam um alto preço no desenvolvimento de novas tecnologias para consertar os estragos.
Os países menos ou nada desenvolvidos, exploram seus recursos, não exatamente visando o progresso, mas por questão mesmo de sobrevivência, de vida ou morte - tal qual nos primórdios da humanidade, porém com populações absurdamente maiores, e, consequentemente, os impactos, também. Ou seja, o fazem sem possuir as devidas tecnologias e recursos financeiros, portanto seguem, também, rumo ao colapso.
Há ainda os países com desenvolvimento em andamento, a largos passos, tentando "um lugar ao sol". É neste grupo que o Brasil se enquadra. A fundamental diferença, é que não precisam de um modelo de desenvolvimento predatório, pois não vivem naquela época de desconhecimento e/ou despreocupação com os impactos que serão gerados, em relação ao primeiro grupo; e não precisam do modelo de exploração inconsciente, desesperada, pois têm tecnologia e recursos financeiros, ou seja, não é questão de vida ou morte, em comparação ao segundo grupo.
Em resumo, os países em desenvolvimento "estão com a faca e o queijo na mão"; têm o privilégio de não estar na mesma situação dos países mais pobres, e de estar na confortável posição de poder determinar seu desenvolvimento de forma racional, equacionando as variáveis do processo, não incorrendo no mesmo erro dos países mais ricos; pois a maioria dos impactos ambientais são irreversíveis - tal como os observados nos Estados Unidos (Everglades-Flórida), ou no Mar de Aral (na antiga União Soviética (Cazaquistão/Usbequistão).
O CERRADO
Apesar de não figurar frequentemente nas pautas da política e da mídia - como está a Amazônia -, o Cerrado é uma ecorregião de suma importância. Corresponde a aproximadamente 25% do território brasileiro, e é um dos ecossistemas mais complexos, sensíveis e de maior biodiversidade do planeta.
Para se ter uma ideia do potencial do Cerrado, seus mananciais abastecem importantes bacias hidrográficas, tais como: Bacia do São Francisco, Bacia do Araguaia/Tocantins e Bacia do Paraná, além de outras nove, grandes e importantes. É imprescindível frisar que o Cerrado é uma variável fundamental no equacionamento do clima, pois está localizado "estrategicamente" mais para o centro do país e do continente sul americano, tendo influência significativa (como parte da equação) no clima que abrange todo o Brasil, bem como o continente, e, consequentemente, todo o globo terrestre.
Para se ter uma ideia do potencial do Cerrado, seus mananciais abastecem importantes bacias hidrográficas, tais como: Bacia do São Francisco, Bacia do Araguaia/Tocantins e Bacia do Paraná, além de outras nove, grandes e importantes. É imprescindível frisar que o Cerrado é uma variável fundamental no equacionamento do clima, pois está localizado "estrategicamente" mais para o centro do país e do continente sul americano, tendo influência significativa (como parte da equação) no clima que abrange todo o Brasil, bem como o continente, e, consequentemente, todo o globo terrestre.
Na visão desenvolvimentista de hoje, nos deparamos com o grande risco que o Cerrado está correndo. Nos primeiros estudos, a área abrangente por este bioma foi apontada como desinteressante, tanto para a agricultura - devido à acidez e pobreza do solo -, quanto como área de preservação ambiental - devido ao desconhecimento de seu verdadeiro potencial. Entretanto, hoje, já é notória a capacidade, tanto para um, quanto para outro.
É, no mínimo, duvidosa a conclusão dos primeiros estudos. O fato é que foram desenvolvidas novas tecnologias para a implantação da agricultura - principalmente da soja -, e só mais tarde, tardios estudos, realmente conclusivos, foram implantados para verificação da importância deste bioma.
AMEAÇAS
Além da soja, somam-se às ameaças ao Cerrado, o potencial destruidor da pecuária e da indústria siderúrgica de ferro gusa.
- SIDERURGIA
Os impactos deste tipo de desmatamento são catastróficos, pois ao longo das décadas - sabendo-se que começou nas proximidades das siderúrgicas - devastou tudo ao redor das indústrias, e hoje, já chega a mais de 1000 Km delas (referente às indústrias do sudeste); ou seja, para que a coisa se torne viável, gera mão de obra escrava e infantil, indo muito além do problema dito "ambiental" - entre aspas, pois não há dissociação entre ambiental e social.
A utilização de madeira ilegal como combustível, representa uma economia de 12%, em relação `a madeira legal - proveniente de reflorestamento, basicamente de eucaliptos. Em relação ao carvão mineral, além de maiores vantagens econômicas, o carvão vegetal não apresenta enxofre em sua composição, o que melhora a qualidade final do produto, tornando-o ainda mais competitivo.
Diante deste quadro, é imprescindível a participação de toda a sociedade, frente a este perigo iminente. O valor de um produto, está diretamente ligado a nossa qualidade de vida futura. Ou seja, não é admissível que o valor de um produto seja reduzido em detrimento de nossa qualidade de vida.
- AGROPECUÁRIA
Os desmatamentos para a agricultura (principalmente de soja) e pecuária de bovinos já reduziram o Cerrado a menos de um quarto de seu tamanho.
O uso de agrotóxicos e fertilizantes utilizados nas lavouras estão contaminando os lençóis freáticos e os rios que abastecem as populações. As queimadas estão contaminando a atmosfera, além de provocar a exposição do solo e consequente desertificação.
O estado de Goiás já sofre com problemas no abastecimento de água devido à devastação das matas ciliares das nascentes do rio Araguaia. Também os atuais recordes de baixa nas taxas de umidade no centroeste brasileiro, têm origem no desmatamento do Cerrado. O assoriamento do rio Taquari (um dos principais formadores do Pantanal) já anuncia problemas que interferem na saúde do Pantanal.
RESPONSABILIDADE
O objetivo deste texto é, principalmente, de desfazer a equivocada ideia que se faz da ecologia - equívoco este, de responsabilidade dos próprios ditos "ecologistas". Faz-se necessário, portanto, uma distinção entre ecologista e ecólogo: o ecologista pode ser um cientista ou qualquer pessoa defensora das causas referentes ao meio ambiente; um ecólogo, é um especialista em ecossistemas, ou seja, um estudioso dos impactos do homem na natureza, com objetivo de determinar as melhores maneiras de aproveitamento dos recursos naturais.
Há a necessidade iminente de demonstrar que a defesa da Natureza, não é a Natureza em si; não é a defesa de determinado animal, planta ou paisagem, especificamente; o verdadeiro motivo, objetivo, é sempre o bem estar do homem. Por exemplo, a preservação da Amazônia tem relação com a saúde das plantas e dos animais, sim, mas com o objetivo final de proteger o próprio homem, pois da preservação deste ambiente, depende o bem estar do homem.
A ecologia, a geografia, a biologia, assim como a matemática, a física, a química, são ciências; e ciência, é feita pelo homem, em benefício do homem. Ou seja, a matemática, por exemplo, não foi desenvolvida apenas para demonstrar a complexidade dos números, mas para a aplicação deles para a melhoria de qualidade de vida do homem. Enfim, cada disciplina tem seu objeto de estudo, mas todas têm um mesmo objetivo final: o bem estar da humanidade.
Enfim, o equívoco a que me refiro, tem relação direta com o efeito que as causas ecológicas geram em determinada parte da sociedade. Os ecologistas apresentam suas causas de maneira equivocada, tal qual: "temos que proteger a Mata Atlântica". A pergunta é: por que proteger a Mata Atlântica? Por que ela é bonita? Por que ela está cheia de animais e plantas? Por que a Natureza levou milhões de anos para concebê-la? Ora, estes não são argumentos que vão convencer a sociedade. Em muitas destas causas, a sociedade se irrita, e com razão. Imaginem a seguinte situação: a implantação de determinada indústria requer o desmatamento de uma grande área de floresta virgem. A indústria vai gerar empregos e riquezas para o país, e vai produzir impactos significativos na região. São fortes e convincentes os argumentos para a implantação da indústria. Portanto, os apelos para a preservação da floresta não devem ser colocados de forma tão simplista, como o fazem os "ecologistas"; como se a preservação da floresta se resumisse à proteção de algumas espécies de animais ou plantas, por si só, sem as devidas explicações dos impactos que realmente afetarão nossas vidas.
Repito, é preciso uma explicação mais objetiva, mais enérgica, uma explicação que tenha um impacto direto na vida de todos. Ou seja, é preciso demonstrar de que forma a extinção de um rio, de um animal ou planta vai afetar a vida de cada um. É necessário demonstrar, por exemplo, que a devastação de determinada mata ciliar, não é somente pela preservação do mico ou do papagaio, raros, que se reproduzem lá, mas porque é de lá que vem a água que alimenta o determinado rio que abastece as cidades, provendo água potável, alimentos e diversos outros benefícios para as populações.
O Brasil viveu seus momentos em que "precisava" gerar divisas para cumprir as exigências dos acordos com o capital internacional. Este foi o momento em que o Brasil precisou sacrificar o Cerrado para sobreviver e ver surgir o progresso. Este processo já durou quarenta anos, restando apenas 20% do Cerrado. Onde é que isto vai parar? Quando o Cerrado acabar de vez?
A implantção da agropecuária no Cerrado serviu para alvancar o desenvolvimento do país, mas a expansão já foi além das fronteiras aceitáveis. Não estou sugerindo a interrupção imediata destas atividades, mas o estancamento, antes que seja tarde demais. Haverá o momento que isso terá que ser feito. Por que não agora?
Não podemos e não precisamos cometer os mesmos erros dos países desenvolvidos. Basta que observemos o caso dos Everglades na Flórida. Hoje, o que resta está limitado a um parque ecológico. Já foi investido mais de trezentos milhões de dólares em vãs tentativas de reverter parte dos danos causados.
O desastre do Mar de Aral talvez esteja entre os maiores desastres ecológicos do palneta devido à ação antrópica. O paraíso que se encontrava às suas margens - proporcionado pelo progresso imediatista; que não durou mais de vinte anos -, já se encontra a uma distância de aproximadamente 200Km da água. O Mar de Aral está secando, recuando devido à forma desordenada de manejo das matas e dos rios em seu entorno. Ou seja, onde havia água, existe um deserto de sal e areia. Além de causar diversos problemas econômicos e o deslocamento de populações inteiras, este deserto está levando inúmeras doenças respiratórias para toda região.
Acredito que o Mar de Aral seja exemplar como forte argumento em debates quanto às causas ambientais que envolvem impactos de grande porte, como Amazônia, o Pantanal e o Cerrado. A exploração inconsciente dos recursos naturais em torno do Mar de Aral- plantações de algodão e milho - que visava o progresso imediatista, resultou em consequências desastrosas.
Os últimos estudos de impacto ambiental revelam que o desastre ambiental, capaz de superar o do Mar de Aral, é a destruição do Pantanal Matogrossense. Isto pode acontecer de duas maneiras que representam perigo iminente: a implantação da Hidrovia do rio Paraguai - caso seja feita sem as devidas precauções para evitar o desastre-; e com o atual nível de extinção do Cerrado. O rio Paraguai representa a principal via de escoamento, e o Cerrado, a principal fonte de alimentação de água.
É preciso que sejam implantadas tecnologias para o aumento da produção das lavouras de soja nos limites já impostos por elas, sem o envenenamento do sistema hídrico e sem os desmatamentos; criar políticas para conter a expansão da pecuária, e racionalidade para extinguir de vez a exploração de madeira para a indústria siderúrgica; isso é possível, basta vontade política, pois, no passo que está, a exploração do Cerrado vai durar por, no máximo, vinte anos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não será possível reverter o quadro que se apresenta, pois a mata do Cerrado não se regenera, ou seja, os 80% que foram destruídos, não serão restituídos. O mal já está feito, mas não pode continuar. O futuro do Brasil depende das decisões tomadas agora, no que diz respeito à gestão dos nossos recursos naturais. ISTO NÃO É UM MANIFESTO "ECOLÓGICO", MAS, ANTES DE TUDO, HUMANO.
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